Lobo Mal - Parte 3

30-12-2010 01:57

 

 

Calor me afagou quando a consciência retornou. Ondas cálidas e macias que afagavam meu rosto, abraçando meus braços e pernas. Aqui era tão macio. “Acolhedor” a palavra surgiu preguiçosamente em minha mente entorpecida. “Diferente”, uma parte de mim acrescentou. Sim havia uma diferença drástica, embora eu não conseguisse discernir com clareza e rapidez. Meu coração tranqüilo e sereno pulsou ansioso. Frio... Não, só havia calor ali. Água... Não havia chuva naquele local abafado e seco... Mas o som... Ah, a chuva estava presente, igual ao pesadelo... Um trovão estremeceu meu paraíso cálido, forçando meu corpo a se encolher surpreso o que despertou as dores. E isto me despertou do sonho tranqüilo e vazio ao qual eu queria ter me prendido.

Com um novo trovão meus olhos se abriram assustados, e foram tomados por uma luz alucinante tão próxima que me forçou a fechá-los. O som de labaredas alcançou meus ouvidos junto com o cheiro de fuligem e madeira queimada. Meus dedos rígidos se fecharam sobre algo macio e quente, segundos depois eu me dei conta de que era um lençol e aquela nuvem em que estava deitada se tratava de um colchão. Estranhamente, a nuvem já não parecia mais tão macia, o calor já não tão intenso e a atmosfera nada acolhedora.

Minhas pálpebras se ergueram novamente, cautelosas e lentas desta vez e o que antes era apenas um borrão de luz e cores se focou no que me parecia uma lareira. As línguas de fogo sacudiam-se vivamente, lançando a meu rosto uma onda de calor que se desprendia de suas pontas. Meus olhos vagaram lentamente identificando terreno. Eles viram a fuligem que cobria o chão de madeira perto de onde meu colchão estava, avistaram uma pequena vassoura, uma pá, algo que se parecia com uma pinça gigante e um ferro pontudo todos chamuscados, velhos e pendurados em um suporte de metal - deveriam ser utilizados para atiçar e limpar a lareira - vislumbraram minha capa vermelha sobre meu corpo, fazendo às vezes de uma manta. Havia mais, eu sentia, mas para isso eu precisava me mover, eu precisava abandonar essa posição estática tão segura.

Relutante, resignei-me a farejar o ar, vasculhá-lo atrás da morte certa. O cheiro de fuligem invadiu minhas narinas, queimando-as com seu odor desagradável o que forçou lagrimas em meus olhos, mas o que me fez chorar fora o cheiro repugnante da fera. Ele impregnava o ar em todos os cantos. Desprendia-se do chão e paredes, grudava-se aos lençóis e colchões onde repousava e estava presentes em minha capa, em meu vestido, em minha pele. Meu estomago contorceu-se e virou violentamente em um nó cego fazendo-me arfar em ânsia. “Ele tocou. Minha pele. Ele me tocou!” era o horror e repugnância que ardia em meus neurônios.

Um grunhido elevou-se do caos sonoro que acontecia do lado de fora daquele casebre sacudido pela diabólica tempestade. Um som de satisfação presunçosa. Um som que intensificou minha ânsia.

Deus como eu queria acabar com aquilo... “Parada é que não vai acabar com nada” uma verdade que relutei em concordar.

Sentindo cada tendão estalar e nervo latejar, me virei sobre o colchão e tratei de me sentar lentamente, apoiando-me sobre as mãos por conta do enjoou que ondulava minha cabeça. E o resto da barraca se fez visível. Era apenas um daqueles cômodos quadrados onde havia uma mesa maciça de madeira no centro ocupada por algo volumoso coberto por tecidos puídos, um peludo e imenso tapete de pele, um candelabro de ferro retorcido, uma lareira a um canto, uma escada em caracol ao lado de uma porta que possuía um adorável olho mágico. Um chalé quente e acolhedor, ao menos deveria, e seria caso houvesse aqui um casal apaixonado prestes a se perder em um final de semana de chocolate e contato físico. Mas nesta noite, só havia monstros naquele cômodo. E ele me fitava, próximo demais. A poucos metros da lareira, onde meu colchão fora instalado, havia uma imponente e velha poltrona, daquelas onde velhos soldados de guerra se sentam para contar historia aos netos, e nesta aconchegante poltrona ele se sentava e me encarava.

Um arrepio sacudiu toda minha coluna, enquanto meus dentes fechavam-se tão violentamente uns sobre os outros que logo se estilhaçariam. No entanto ao encarar aquele par de olhos negros de onde apenas irradiava selvageria e fome, as lágrimas que lavavam meus olhos secaram-se instantaneamente, como varridas por um seco e arenoso vento do deserto.

- Alegro-me em ver que finalmente despertou, minha amada – seus lábios se abriram em um sorriso hostil e possessivo.

Eu me encolhi sobre o colchão enquanto encarava aquele homem doentio e maldito. Sua pele acobreada cintilava fracamente sob as chamas dançantes atrás de mim, e seu corpo musculoso era facilmente visível do modo como ele estava esparramado sobre a poltrona, com os braços abertos, balançando preguiçosamente no ar quente. Meus olhos, desprevenidos caíram na familiar mania de fitar seu forte tórax nu e deslizar até seu abdômen mais do que definido pairando sobre a linha do cós da calça gasta de cintura baixa. O nojo que amargou minha garganta e azedou minha língua me fez odiar-me e afastar o olhar, horrorizada com minha fraqueza. Mas era tão forte ainda. Seu porte físico incomparável e belíssimo ainda era um imã forte e eu por mais que odiasse não conseguia mudar minha polaridade para evitar sua influência magnética.

Ele riu ao ver o desejo encoberto em meus olhos. Um riso rouco e delicioso, quente por sua vitória e amargo por sua arrogância. Eu o encarei novamente, agarrando-me a razão e o desespero que fazia pulsar meu coração. Novamente era impossível evitar odiar o que via. Tão desprovido de humanidade... E tão semelhante a mim... Não sabia o que me enjoava mais.

- O que foi? Onde está sua vivacidade? Onde estão suas palavras de horror e repulsa? – ele apoiou os cotovelos nos joelhos e me fitou com o rosto encurvado, os olhos intensos... Como um predador encantando sua presa.

O que eu deveria dizer? Que sentenças ditas por mim poderiam lhe causar algum efeito? Acusação alguma atingiria sua alma perdida e poluída e receava que nenhuma palavra seria clara o suficiente para expressar toda ira vulcânica que borbulhava em minha garganta. Só o que me restava era gritar e urrar, e até mesmo isto no final seria inútil.

- Ou talvez finalmente tenhas compreendido minhas alegações e aceitado a oferta? – ele abriu um sorriso sugestivo e radiante, e não se sentir cativo daquele charme era impossível.

- A única oferta a qual estou disposta a abraçar é a da morte! – minhas palavras chiaram entre meus dentes como uma cascavel enfurecida.

Ele endireitou-se na poltrona, os olhos sombrios e profundos fitando-me de cima a baixo, a cobiça fazendo-se presente em seus lábios conforme sua língua os tracejava suave e sutilmente.

- Se querias tanto o eterno fim deverias ter corrido a cidade – ele rebateu cordialmente – no entanto invadira meus terrenos, procuraste abrigo em seu habitat.

- Não ouse me associar a este inferno – eu o ameacei asperamente – não pertenço e não serei desta terra amaldiçoada.

Seus lábios curvaram-se em um sorriso torto divertido. Um sorriso que alcançava seus olhos famintos. Um sorriso que antes havia me arrancado muitos suspiros e sonhos pervertidos.

- Não achou este meu recanto tão desagradável quando me visitou da ultima vez – ele pronunciou cada palavra com uma cadencia afável – ao contrário, me lembro que o sorriso não abandonava seus lábios.

Meu corpo formigou com aquelas palavras. Se fora te vergonha ou prazer pela lembrança eu não sei, e confesso que internamente temia a resposta para tal dúvida.

- Assumirei que teu silêncio é uma concordância – disse com uma presunção que o tornou ainda mais radiante, se isto era possível...

- Por favor... – eu gemi miseravelmente sentindo todo o enjoou que minha vergonha fazia escorrer por meu corpo, como um córrego imundo e pegajoso.

- Por favor... O que? Por acaso quer repetir... Reviver as lembranças? – cada palavra transbordando em sugestões que poluíam o ar que eu tentava respirar.

- Reviver? – eu exclamei exasperada, arrastando-me para a beira do colchão o mais longe dele, o que fazia minhas costas ficarem perigosamente próximas do fogo, eu podia sentir as labaredas ameaçando me lamber – Já me é torturante ter que carregar a deplorável memória do....de....

- De nosso amor. – ele completou a sentença com simplicidade e naturalidade, como se informasse o tempo ou a hora – de nosso vinculo que fora selado naquela noite.

- Eu não pertenço a você! – eu rebati em um tom selvagem e o que recebi em troca fora apenas um sorriso cético.

- Ainda – ele deu uma suave mais determinada ênfase à palavra – alem do mais o que mais lhe resta? Ou por acaso eu esqueci algum parente vivo?

Seu sorriso era mais do que sombrio ou doentio, ele beirava uma insanidade diabólica. Um demônio radiante que revelava toda sua alma condenada naquele sorriso de dentes reluzentes e hostis que horas atrás estavam cravados na garganta de minha irmã. Aquilo me enlouquecia, e me deixava doente a ponto de curvar-me sobre meu estomago que se revirava sincronizado as agudas e profundas pontadas em minha cabeça.

- Como ousaste tocá-la!? – eu rosnei furiosamente agarrando-me a imagem de minha irmã mutilada para fugir de seus encantos visuais. Mas a dor era demais, e logo lágrimas escorriam de meus olhos, e eu não sabia dizer se era pela perda ou pelas dores que percorriam meu corpo.

Ele não respondeu, ao invés levantou-se de sua poltrona e veio a passos largos e lentos postar-se ao pé do colchão, oposto ao canto onde me encolhia atormentada, ele ajoelhou-se ali e me encarou com olhos sóbrios e aquilo por algum motivo me apavorava mais do que quando ele agia insanamente. Ali estava um predador frio e calculista, que não era levado por seus impulsos, mas sim por certezas garantidas. Alguém que eu não poderia enganar.

- Compreenda, já é bastante arriscado ter que lidar com uma cidade de humanos tão próximos, onde muitos ainda desdenham nossa existência e poucos ouvem sobre os avisos daqueles que desconfiam sobre nós. Agora permitir que um parente de sangue seu permaneça vivo e determinado a buscá-la no inferno se assim fosse necessário? Valendo-se de que poderia somar a sua caçada outros humanos para lhe ajudar? Este é um perigo que não estou disposto a correr. – seus olhos negros de um modo inexplicável escureceram ainda mais, completamente intransponíveis e de uma profundidade eterna. Como um daqueles poços que prometem uma longa e ininterrupta queda – Um perigo que faço questão de afastar de você. De nós.

- Não há “nós”! – eu rebati em um grito, transferindo um pouco de meu peso esmagador para o ambiente antes que se tornasse impossível para meu coração pulsar sob tamanha pressão – e como pôde matá-la? Ela nem teve como se defender... Ela... Ela é inofensiva...

Eu teria me perdido neste discurso caótico e desconexo por toda a noite se ele não tivesse avançado e selado meus lábios com sua mão. Sua investida fora tão inesperada e repentina que minha reação fora desorientada. Eu puxei meu corpo para trás, esquecendo-me de que só havia chamas e cinzas a minhas costas. Eu teria me queimado, e por um instante eu desejei realmente ter caído naquelas chamas e virado nada mais do que cinzas, mas as mãos firmes e fortes dele me detiveram. Ele me segurou pelas costas enquanto sua mão livre envolvia minha cintura e me puxava para o meio do colchão. Eu lutei e me esperneei contra seu toque, acertando um soco ou chute aleatório, mas sem jamais impedi-lo. Quando dei por mim, estava imobilizada sob seu corpo abrasador, uma de suas mãos fechando-se sobre meus pulsos com um aperto de ferro enquanto a outra repousava pesadamente sobre meus lábios. Antes a mão do que sua boca; pensei.

- Em primeiro lugar, tua irmã jamais seria inofensiva, não enquanto tivesse consigo aquele poder de persuasão que suas palavras exalavam. Enquanto ela pudesse revelar aos demais o que éramos e onde nos achar ela era a mais perigosa de todos. Suas palavras eram mais letais que os machados e revólveres que aqueles bastardos carregam! – ele rosnou diabolicamente.

 Uma parte de meu cérebro registrou suas palavras, compreendeu o significado e tudo o mais, no entanto a outra metade, lamento em confessar, era bem maior do que a primeira e estava completa e irrevogavelmente voltada para a sensação de seu corpo contra o meu. Já fazia algum tempo desde que nossos corpos se encontravam tão colados um ao outro. Eu havia me esquecido do quão quente seu corpo era sobre o meu, de como era possível sentir o pulsar violento de teu coração colidindo contra minha carne, e como sua pele acobreada era macia e suave quando assim precisava ser. Eu inspirei profundamente e seu aroma novamente me impregnou, obviamente meu corpo estremeceu-se em repugnância com aquele aroma que eu aprendera recentemente a abominar, no entanto era inegável o quanto seu perfume era no fundo atrativo.

Flashes de lembranças passadas que eu havia me proibido de visitar escaparam do canto obscuro onde os havia enfurnado.

 Nossas respirações entrecortadas e ásperas... Nossos corpos conectados... A eletricidade que irrompia dele e percorria meu corpo... Suas juras de amor verbalizadas em sussurros roucos e ofegantes... O calor que tornava minha pele úmida e nossos perfumes mais densos misturando-se um ao outro...

- Você a fez sofrer... – gemi, minha voz abafada por sua mão e meus soluços exasperados. Mas de algum modo ele compreendeu o que disse.

- Ela nos faria sofrer muito mais – ele disse friamente – eu lhe dei uma escolha. Disse a ela que seria misericordioso contanto que ela se esquecesse de ti, que abandonasse seu amor e nós deixasse livres – algo sombrio correu por seus olhos, algo doloroso, nada mais que um raio veloz – que aceitasse o destino de sua irmã marcada. Mas ela não me ouviu, ela manteve sua ameaça... - ele hesitou e isto me surpreendeu, pois jamais o vi fazer isto - Achas que não doera em mim? Matar algo tão fisicamente igual a meu amor?!

Sua mão deslizou de minha boca para acariciar-me as bochechas, delineando minha mandíbula, descendo suavemente por meu pescoço traçando um rastro de formigamento até minha clavícula e delineando o decote de meu vestido.

- A voz dela é tão parecida com a tua... Os gritos são tão semelhantes. Fui forçado a ser rápido para calá-la logo. – ele murmurou pensativo – a única coisa que me consola é que jamais verei aquela dor e horror em seus olhos. Não, minha amada Luana não tem motivos para passar por tal sofrimento.

- Eu não sou sua! – eu rosnei furiosamente, debatendo-me em seus braços – Eu não serei sua! Jamais entregaria um fio de cabelo sequer ao assassino de minha irmã!

- Admira-me que não consegue ouvir a mentira estampa em suas palavras – ele rebateu ferozmente, seu corpo pressionando ainda mais, seu rosto aproximando-se ainda mais - você é minha deste a noite em que nascera! Você é minha deste o dia em que fixara seus olhos aos meus. Você é minha deste a noite em que caíra na floresta e pela fera fora marcada!

Eu rosnei em protestos, ignorando aquelas palavras que feriam meus ouvidos e queimavam minha mente. Lampejos de dor em forma de memórias tingiam meu consciente. Era ainda tão claro e real... Meus passos exasperados, o monstro atrás de mim, seus dentes cravando-se em meu ombro, meu grito de horror... A manhã seguinte deitada pacificamente em meu leito, onde tudo parecia ser apenas um sonho se não fosse à marca maldita talhada em minha pele.

- Porque negas a verdade? Somos um para o outro tudo agora – ele murmurou em meu ouvido docemente – eu sei que você ainda sente a mesma necessidade de antes. Eu posso senti-la, queimando-lhe a carne e puxando-a para mim. Do mesmo modo que eu continuo a ser arrastado para você.

Eu engoli em seco enquanto sentia seu quente hálito acariciar minha bochecha, seus dedos traçando padrões em meus pulsos, enquanto sua mão livre descia pela lateral de meu corpo e se arrastava para baixo alcançando minha coxa e deixando cada pedaço de pele em que tocava ardente.

- Lembre-se das primeiras semanas em que estivemos juntos, longe de toda essa historia, onde éramos apenas Eu e Você. Sem regras ou pudor – um brilho de malicia clareou seu rosto - É a vida que você sempre desejou. Liberdade e Poder que sempre sonhou. Eu e você juntos para sempre, os únicos de uma raça imbatível. Os primeiros de uma longa herança.

Seus olhos queimavam uma ansiedade colérica. Ele sonhava com aquilo tão claramente, que aquela possibilidade era mais do que palpável para ele, era certa e já acontecia. Vitória era o que aquele rosto radiante e sufocante exalava como um sol de verão. Ele estava tão imponente... Tão despreocupadamente certo... Eu vi ali traços do homem que outrora eu me apaixonara. Lá estava a deliciosa facilidade com que ele garantia uma segurança tão intensa que duvidar dela seria patético. E havia paixão ali também. O mar negro e profundo que eram seus olhos queimavam em uma paixão possessiva e necessitada que eu vira poucas vezes, quando eu também me corroia pela mesma necessidade.

- Não há nós - minha voz era apenas um sussurro, um reflexo de meu pavor por toda aquela intensidade – eu não desejo ser daquele cujos lábios estão sujos com o sangue de minha irmã!

- Não levara muito tempo você gostara de tal sabor – ele abriu um sorriso diabolicamente belo – de fato, que tal uma breve amostra.

E sem mais palavras ou aviso ele curvou seu rosto até o meu, cobrindo os centímetros que afastavam nossas bocas. O contato fora inesperado e invasivo. Meu corpo congelou-se enquanto seus lábios macios cobriam os meus instigando-me. Era tão quente... Eu inspirei fundo atrás de oxigênio e fui infectada por seu aroma natural. Delicioso, provocativo e desnorteante. Quando dei por mim meus lábios se abriam para os seus, formando arranjos urgentes e ferozes de um beijo faminto semelhante a muitos que já havíamos dado. Meu corpo estremeceu-se em prazer. Um prazer proibido e imundo.

Os insignificantes centímetros que nossos corpos ainda mantinham um do outro foram derrubados inevitavelmente. Logo cada pedaço de pele minha encostada a dele queimava e ansiava por mais calor. Seus dedos pressionaram minha coxa enquanto ele a puxava para cima de seu quadril.

Minha mente enevoada pela fumaça intoxicante daquele incêndio se concentrava em poucas coisas. Como em seu toque firme e ao mesmo tempo suave, a maciez de seus lábios e o gosto agridoce embora ferroso que eles traziam... Aquele gosto de... Sangue. E de repente o mundo voltou ao horrível pesadelo que era.

Com um estalido minha mente limpou-se da embriaguês, embora meu corpo continuasse a mercê do prazer abrasador. E foi doloroso. Eu me vi puxada em duas direções completamente opostas. Minha mente clamava por liberdade e paz enquanto que meu corpo se mantinha teimosamente fixo ao corpo que lhe proporcionava tudo aquilo que sempre ansiou.

Senti meus pulsos livres conforme notava sua mão pousada na base de meu pescoço e vi meu cérebro martelando enquanto um plano as pressas era formado e me mostrado. Meu corpo latejou em discordância, mas ele não estava em posição de ordenar nada conforme a repugnância escorria por minhas veias enquanto eu mantinha aquele beijo ininterrupto e viciante. “Bata! Fuja! Você não tem escolha!”

Meu punho cerrou-se duramente conforme seus lábios desciam por minha mandíbula. Eu tinha apenas uma única chance, era a única coisa que me passava pela mente. Uma chance para acabar com esse pesadelo. E ainda sim uma parte de mim ainda lamentou acabar com aquilo, dar fim a algo que inicialmente parecia ter sido meu milagre particular. Não havia milagre nele. Não havia milagre em mim. Só uma maldição. Só uma fera em nossos corações. Uma fera que despertaria com a lua e o consumir de vidas.

- Lucas – eu gemi inesperadamente, sentindo uma lagrima ácida deslizar por meu rosto. Ele notou.

- Não chores amor... Tudo vai ficar bem, será rápido – ele dizia docemente naquele tom rouco e intoxicado.

Seus lábios deslizaram por minha bochecha beijando-me suavemente e limpando os vestígios de minha lágrima e logo eles estavam sobre os meus novamente, amargos e salgados. Eu não gostava daquilo, embora já tivesse amado.

Eu arrastei meu punho pelo colchão, erguendo-o quando a distância permitia, deslizando-o para longe e reunindo toda a força que meus músculos podiam suportar eu o joguei contra a mandíbula de Lucas. O som seco do choque estalou diante de mim. Carne contra carne, um golpe duro e cru. Seus lábios foram arrastados para longe dos meus abruptamente, enquanto seu corpo surpreso tombava para o lado desnorteado.

 

 

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