Fada Madrinha - Parte 2

09-12-2010 14:41

 

 

 

Primeiro só havia escuro e frio. Silencio era tão intenso que eu poderia ouvir o fluxo de minhas arteiras... Bem, se houvesse fluxo eu ouviria. Mas nada havia. Nada de sangue, nada de coração pulsante. Eu mal podia me sentir. Minhas mãos, minhas pernas, meus joelhos e cotovelos, as pontas de meus dedos... Estavam ha muito perdidos e distantes demais para serem sentidos. Não havia corpo. Não havia razão. Eu de algum modo não havia eu. Ao menos foi o que me pareceu naqueles instantes de morte congelante.

Com o tempo de um raio ao tocar o chão, toda aquela inexistência se desfez. Ao som de uma cantoria sussurrante e incompreensível eu voltei ao consciente, embora ainda estivesse perdida na escuridão, privada de qualquer sensação. Mas aquela voz de algum modo me arrastava para longe da inexistência, como uma luz a me guiar para o fim do túnel. Algo em minha limitada consciência me fisgava e me fazia relutar. Errado, era a sensação que vibrava ao redor de seja lá o que eu era. Mas a voz era mais alta que o vibrar desconfortável da sensatez. A voz era determinada e orgulhosa. Ela não me perderia. Escolha não era algo que estava oferecendo. A sensatez me puxou com mais força, e me fez sentir como um peixe ao ser puxado por um teimoso pescador. A voz se aflorou, a música se tornou mais eloqüente embora intraduzível, no entanto o tom raivoso era inconfundível. Algo se apossou do que eu era, me fez lembrar mãos agarradas a meus ombros, me fez lembrar de ser puxada para fora da água após estar mergulhada. E como se eu estivesse afogada a quilômetros de profundidade, a musica me arrastou para a superfície. Rápida e clara.

- Acorde, acorde... Seja como for – a voz finalmente disse algo que eu compreendia, embora ainda soasse como uma cantoria e Deus aquilo era tentador.

Ainda havia silencio, ainda havia escuridão e o frio me lambia com fervor. E em um instante tudo se desfez. Em um instante eu despertei... E gritei. Gritei contra o soco que me fora dado dentro do peito. Um após o outro, uma série de bancadas violentas e ritmadas dentro de minha caixa torácica. Gritei quando os ossos de meus braços latejaram quando foram movidos pelo choque. Lá estavam meus cotovelos queimando ao serem flexionados, ameaçando se quebrar caso eu voltasse a lhes incomodar. Lá estavam meus joelhos rangendo ardentemente quando encolhi minhas pernas ao novo soco que me fora dado. Até as pontas de meus pés latejavam por mais imóveis que eu as mantivesse. Lá estava meu corpo. Lá estava eu ardendo e doendo, lamentando por não ter seguido a sensatez, pranteando a saudade da inexistência.

Um novo golpe, mais intenso e certeiro me fez sufocar. E contrariada eu fiz algo que embora fosse natural e familiar, era agora uma agonia quase impossível de suportar. Com a boca aberta eu inspirei involuntariamente um enorme fôlego, mas o que abriu caminho aos socos por minha garganta, rasgando percurso até meus pulmões não era o fresco e consolador oxigênio. Fofo expandiu aquele órgão que me parecia morto. Toda sua extensão ardeu, e a sensação se alastrou por minhas costelas. Ah lá estavam elas a conter o fogo que se alastrava por meus pulmões e o tambor a me torturar internamente. A cada nova pontada, ardência e fisgada um novo pedaço de mim era descoberto, reconhecido, e desprezado. Eu não queria nada daquilo. Eu não queria aquele corpo acabado que só conservava ossos, tendões e órgão doloridos em uma estrutura em frangalhos.

Um soluço se embolou em minha garganta incinerada escapando por entre meus dentes cerrados como um lamento infantil e exausto. E um riso respondeu meu lamento exaurido.

- Vejas só, voltar à vida ao mesmo estilo da primeira vez. Um bebê chorão. – o tom de deboche era latente assim como seu sotaque inglês – tão clichê

Sua voz me arrastou um pouco mais para a realidade ao redor. Eu ainda não ousava olhar ao redor, mas escutar era impossível de evitar. Havia passos típico de salto altos, se eu me esforçasse saberia a marca e o tamanho, mas os passinhos de ratos não muito próximos fizeram minha coluna estremecer em repulsa. Havia alguma goteira não muito longe e o som dos corvos era agonizante. Os cheiros também eram inconfundíveis. Terra molhada, folhas secas e lama se misturam a algo úmido e férreo que não reconhecia, mas estava próximo demais junto com o odor fétido de fuligem. Eu odiava fogueiras.

Os passos voltaram a se sobrepor sobre o universo invisível ao meu redor, próximos demais eles estavam ao lado de minha cabeça e colidiam contra a terra lamacenta. Um som de impaciência.

- Querida não temos a noite inteira, então trate de abrir esses olhinhos porque você não é a bela adormecida e eu não faço o tipo príncipe encantado – a voz era amigável, mas a ordem ali estava implícita, e novamente era tentador demais. Obedecê-la era uma necessidade, que prometia mais dor caso eu negasse.

Doeu, seria uma mentira se não mencionasse tal fato. Relutante eu ergui minhas pesadas pálpebras piscando contra as ardentes lagrimas que ali se alojavam. A primeira vista tudo era um borrão, apenas cor e nada de forma. Após duas ou três piscadas o foco foi se formando, ao longo de sete a nove piscadas eu já enxergava. E Deus que visão inesperada!

Lápides, terra revirada, uma pá, restos de uma fogueira, um cadáver de um galo, cruzes ao longe e uma garota excêntrica, é o que me rodeava no mundo dos vivos. Eu pisquei atordoada enquanto observava a garota acima de mim, cada pé de um lado da minha cabeça o corpo curvado para me observar de perto. Eu lancei um rápido olhar para suas botas de couro e salto de 10 centímetros, antes de encarar seu rosto obscuros pelas sombras que a luz de uma lanterna lançava. Sua pele estava escondida sobre uma fina camada de base tornando-a pálida sob a baixa luminosidade, os olhos verdes limão delineados e esfumaçados de preto só favoreciam o efeito. Seus lábios finos e vermelhos estavam curvados em um sutil sorriso de contentamento. Você pode ver esses sorrisos em qualquer lugar que haja alguém presunçosa o bastante com algo que criara ou realizara. É o sorriso da dona do cachorro campeão. É o sorriso do agente de uma celebridade que vale um bilhão. E aquele sorriso, algo sobrenatural me avisava, era dirigido a mim.

- Bem vinda cara mia! – ela disse movendo os lábios lentamente, fazendo o piercing cintilar como uma jóia, e não como a bijuteria barata que era.

- Bem vinda? Eu estive morta por acaso para ser bem vinda em um... Que raio de lugar é esse? – meu rosto formigou enquanto eu me contorcia em uma careta pelo mau cheiro.

- Bem, sim e já não era sem tempo – ela disse se afastando um pouco, mas sem sair de minha vista – daqui a pouco era eu que iria acabar caindo morta. Morta de Tédio. – ela revirou os olhos e quando voltou a me encarar sorriu desculpando-se de uma ofensa que eu mal entendera – não me leve a mal eu sei o quão difícil deve ser se reintegrar e tudo o mais, mas convenhamos não é o espetáculo mais emocionante para se assistir.

Eu a encarei com olhos semicerrado de confusão. O que era aquele turbilhão de palavras que saiam daquela boca bem delineada em um sotaque inglês carregado e uma energia atordoante? Eu sabia que ela estava falando português, eu entendia as palavras que ela proferia, mas o significado delas para aquela situação me fugia.

- O que foi que disse? – eu murmurei asperamente, logo em seguida tossindo violentamente o que intensificou os socos internos.

- Deus, eu sei que é desorientador, mas a sua lerdeza já é ridícula – ela disse colocando as mãos sobre os quadris, como alguém que eu não conseguia lembrar fazia. De qualquer modo não me escapou da mente o fato de que ela nem se importou com minha agourenta tosse digna de uma pneumonia letal.

Embora irritada permaneci parada, ali deitada ao duro e lamacento chão, as mãos agarradas a terra, sujando minhas unhas com folhas e pedrinhas enquanto eu me segurava para suportar a dor. Afinal o que mais eu poderia fazer?

- Você não se lembra de nada? – ela me perguntou quando eu nada disse ou compreendi.

Meu silencio foi uma confirmação a sua suspeita, e ela confusa e insegura coçou a cabeça enquanto pensava e andava ao meu redor. Não era o melhor dos sinais. Seja lá o que estava acontecendo, eu não estava bem. Mas me esforcei. Esforcei-me para, segundo as palavras dela, me lembrar. Mas do que especificamente? Eu nem tinha um ponto de partida, uma memória esquecida que me guiasse. Minha mente estava vazia.

Quem eu era? De onde vinha? Perguntas estúpidas e previsíveis cujas respostas em minha mente não existem. O tambor se intensificou sob minhas costelas conforme eu me apavorava. Quem diabos eu era?!  A resposta estava ali, enterrada sob uma nevoa de vazio concreto, e por mais que eu cavasse algo duvidava que conseguisse alcançar.  Era como pegar o ar com as mãos. Você sabe que ele existe, embora não o veja e jamais o capture, porque você o sente.

- Porque não se senta para podermos conversar melhor? – ela perguntou calmamente – não é lá muito agradável eu aqui em pé e você ai deitada, sinto-me como se estivesse falando com um defunto... Oh droga, que péssimo trocadilho. Não foi a intenção juro – ela disse naquele seu modo apressado de falar, os olhos piscavam se desculpando.

- Trocadilho? Com o que? – falei sem obedecer a seu pedido, embora a tentação de fazê-lo estivesse ali, rodeando-me.

- Ora, defunto... Você ressuscitada. Qual é? Vamos lá seu senso de humor não pode ter morrido. Ou melhor, morreu mais eu o trouxe de volta. Eu trouxe você toda de volta – ela disse velozmente, e lá estava o sorriso dona do cachorro campeão.

- Alem de beber você fumou algo? – eu disse sem pensar, afinal eu não queria pensar nas maluquices que ela proferia naquele jeito estranho de falar.

- Deus, de todos eu fui logo levantar a mais lerda do tumulo – suas palavras foram abafadas por suas mãos, já que agora enterrava o rosto nas mãos e resmungava sem parar, às vezes se culpando e se arrependendo, às vezes simplesmente me ofendendo.

A garota excêntrica após alguns minutos re recompôs em uma postura controlada, ajeitando o casaco de couro o qual bagunçara em sua crise de frustração irritada. Ela inspirou profundamente e se voltou para mim, com ares decididos e centrados.

- Ora pois, sente-se ao menos! – disse quando notou que eu ainda permanecia deitada, imóvel como um cadáver, e algo em mim riu com uma piada que eu mal notara.

Novamente doeu. Era como uma onda que escorria de suas palavras e me empurrava e puxava, tragando-me em uma correnteza que me arrastava para ela. Uma força que comprimia meu ser em um desejo avassalador, obrigando-me a obedecer. E essa gana sobrenatural doía, não tanto quanto a dor de obedecer.

Em um movimento ágil eu me pus sentada e toda a minha coluna estremeceu-se violentamente com a dor que irrompeu do topo de meu pescoço e escorreu quente e veloz até meu cóccix, dizer que chorei em lamento e angustia seria redundância.

- Mas que bela merda de pessoa eu sou – ela resmungou enquanto corria até mim para me amparar, ajoelhando-se a minha frente, no entanto ela estacou, as mãos pairando no ar a centímetros de mim.

Vi em seu rosto o receio de me provocar mais dor ainda. Medo e confusão lhe tingiam a face

 – Merda eu me esqueci dos efeitos colaterais. Perdoe-me minha memória avoada, é que esta é minha primeira vez e alguns detalhes me escapam da mente - os procedimentos, detalhes sempre me escapam.

- Sua primeira vez? – eu resmunguei entre lagrimas, esforçando-me para não me mexer nem um centímetro, já que movimento equivalia à dor no momento.

- Bem não, quer dizer... É. Veja bem eu já ressuscitei outras... Almas antes de você. No entanto essa é minha primeira vez ressuscitando um humano – ela esfregou o braço e desviou o olhar, enquanto eu processava o que falar.

- Deixe-me entender... Eu estou morta, ou melhor, estivera morta e você me trouxe de volta? – ela assentiu pacientemente – mas porque?!

Ela piscou confusa com minha pergunta.

- Como assim por quê? Por acaso preferia o status de morta?

Eu neguei com um aceno de cabeça, amaldiçoando-me por fazer aquele movimento, mas no fundo gostando da sensação familiar que me tomava. Aquele era um gesto típico meu. Ao menos era o que eu lembrava.

- Por acaso estava fazendo melhor uso do seu tempo do outro lado? – ela perguntou e eu novamente neguei – então estamos de acordo, melhor morto-vivo do que morto-morto. – ela esfregou as mãos com energia como se já tivesse resolvido todo o episodio – alias do que se lembra do outro lado afinal? – ela se curvou para mais perto de mim, os olhos cintilando em curiosidade infantil.

- Nada.

- Tudo bem, leva algum tempo para as memórias voltarem...

- Não, você não me entendeu. – eu me apressei em me corrigir – o outro lado, não é nada. Não tem nada. Ao menos não para mim. Ao menos é do que me lembro. Um grande e imenso Nada.

Ela me encarou com um rosto serio e pensativo, no fim encolheu os ombros com o ar de decepção

- Bem vejam só se isso não seria uma decepção para alguns cristãos? – ela abriu um sorriso torto, totalmente presunçoso – no entanto mais um motivo para estar grata comigo.

Eu concordei com um aceno e novamente torci o nariz para a dor. Ela notou e afagou as costas de minha mão com as pontas dos dedos, eu até teria gostado se o toque não fosse tão desconfortável.

- Não se preocupe a dor é temporária, afinal passou muito tempo parada. – ela disse solidaria.

Eu olhei ao redor, piscando forte contra a escuridão para distinguir as formas a minha frente, e a primeira coisa que se mostrou claramente foi o morro de terra não muito distante, ao pé de uma Lápide.

- Aquilo não é...

- Seu tumulo? – ela apressou-se a encontrar as palavras pra mim – sim, é ele sim. E devo admitir, seus pais devem gostar muito de ti, para tamanho investimento. Seu caixão deve ter custado um considerável dinheiro e essa lápide então, sabia que é feita de mármore?

- Como eu poderia saber se já estava morta e muitos palmos abaixo da terra quando ela ali foi posta? – inesperadamente eu estava irritada, apavorada e irritada.

Seus dedos se afastaram de minha mão, e um olhar rápido me mostrou um rosto tomado por espanto e indignação. Eu sabia que estava errada, que ela não merecia aquelas palavras, no entanto eu não atrás eu não iria voltar. Algo novo me tomava, diferente da musica que me resgatara, ou da sensatez que me segurara. Era quente e envolvente. Deslizava por meus músculos doloridos como um véu morno e macio, anestesiando a dor e despertando instintos. Em instantes o véu me cobria por completo, abaixo da superfície de minha pele, ele se instalava por todo o lado. Quente e voraz, infiltrou-se em minha mente com desejos vis.

- Que bela criatura você esta me saindo. – ela resmungou levantando novamente, batendo a terra grudada na calça.

Eu cerrei os dentes enquanto véu se aquecia irritado por aquelas palavras.

- E então? Lembra-se de algo ou ainda é uma defunta débil mental? – novamente suas mãos estavam sobre os quadris e ao fitar seu rosto notei que a paciência estava bem longe dali.

Eu me esforcei novamente, mas a muralha estava ali, intransponível embora translucida o bastante para se notar que havia algo ali do outro lado. Algo me dizia que bastava uma palavra para derrubar o obstáculo, uma palavra mágica para abrir caminho.

-Mas que merda, os outros não se mostraram tão lerdos, de fato não tinham muito do que lembrar, na verdade não tiveram um final tão violento... – ela dizia enquanto se virava e se dirigia até uma enorme e atulhada bolsa que jazia próxima ao cadáver, agora fétido do galo. Ela ergueu-se e voltou a mim, trazendo junto ao peito uma pasta de aparência oficial.

- Eu roubei isso aqui quando resolvi que seria você a quem eu iria reviver – ela ajoelhou-se ao meu lado e abriu uma pasta que transbordava de recortes de jornais, fotos, diagnósticos, obituários e testemunhos – a segurança da delegacia, sinto em dizer, é lamentável. Assim como a mente manipulável do policial de plantão.

Ela abriu um radiante sorriso amigável, e me pareceu muito com o Gato Roxo da Alice, aquela do País das Maravilhas. Ficamos ali em silencio por um longo tempo, ela sorrindo e eu estática. Por fim ela bufou impaciente e girou meu rosto pelo queixo, voltando-o a pasta.

-Veja! Essa é a sua vida, bem... Ao menos fora. Esses são registros de seu ultimo dia viva, é certo que são falhos, mas já servem pra algo. – ela revirou alguns papeis resgatando da pequena pilha uma imagem de uma menina – veja essa é você.

Era? Peguei a foto em meus dedos sujos e trêmulos. Embora fosse um gesto singelo a sensação de novo era desconcertante. O calor aumentou enquanto me sentia infantil. Ignorando a raiva daquilo eu me foquei na imagem. Aquela era eu? Algo atrás da muralha sussurrou que sim.

Uma garota de rosto oval e fino, cujo nariz arrebitado se franzia conforme sustentava um sorriso gentil. Mesmo a imagem sendo preta e branca era possível supor que seu cabelo deveria ser daqueles loiros platinados, pelo modo como aqueles cachos estavam representados em branco, também supôs que seus olhos fossem claros, não verdes como os de minha companheira aqui ao lado, mas talvez castanhos claros, quase mel. Toda a expressão da garota era sincera e satisfeita, como se não se importasse de estar sendo fotografada, como se aquele sorriso feliz não fosse uma mentira bem ensaiada. Eu aproximei mais a foto para contar as pequeninas sardas que se instalavam abaixo de seus vivos olhos, não eram muitas, e traziam um certo charme inocente a sua face. Ela era em seu todo bem atraente. Aquela era eu. Um Eu sem nome atualmente.

- Até que você era uma garota bem afeiçoada não? Uma boneca, tamanha a inocência que seu rosto concentrava – a garota ao meu lado disse, e seu tom ácido me afastou de minha analise e como um relâmpago minha mão voou a meu rosto gélido como neve. Isso a vez rir – acalme-se, seu rosto está intacto! Eu estava apenas me referindo à parte da inocência.

Eu a encarei, confusa.

- Ora minha querida, não é como se as crianças fossem correr para você de braços abertos. Você transpira morte, e seu rosto por mais belo que se mantenha sempre terá uma aura de perigo constante. As outras pessoas talvez não notem o que você é agora, mas elas vão sentir o quão errada você na verdade é. O lance da inocência acabou.

Eu suspirei aliviada, sentindo o tambor socar minhas costelas com mais calma. Minha mão escorregou de meu rosto intacto, eu as olhei com pesar, estavam sujas e o esmalte de renda se encontrava lascado e manchado.

- Deus, você ainda é tão fútil quanto me lembro – e seu corpo inteiro sacudiu-se com seu divertimento.

Eu me virei para ela como um relâmpago, os olhos inquisidores a fuzilaram com dezenas de perguntas, em um desespero instintivo. Você se lembra de mim? Quem diabos é você? Porque sinto como se você fosse familiar? Porque não me lembro de mim? Como diabos vim parar aqui?!

- Você me conhece? – o tom infantil foi mais do que inevitável naquela situação.

- Você não me conhece?! – seu tom impaciente era latente.

- Sim e não, algo em você me soa familiar, mas... No momento você não me passa de uma estranha – eu dei ênfase a ultima palavra sem querer, pois ela era estranha em dezenas de maneiras.Estranhamente familiar.

- Você não se lembra de você?!

Eu neguei. E isso doeu.

- Não sabe seu nome?

Eu neguei.E isso me enjoou.

- Não sabe como morreu?

Eu neguei.E isso me desesperou.

Ela exasperou-se, pondo-se de pé ela andou de um lado para o outro diante de mim, as mãos correndo por seus cabelos febrilmente. Por fim ela estacou diante de mim, os olhos impacientes, o rosto ansioso.

- Pois então lembre-se! – sua voz um comando, uma ordem clara e sonora. A palavra mágica que me faltava.

Como em meu peito, uma forte pancada irrompeu em minha cabeça, era o muro estilhaçando-se, eram as memórias me atacando. Resistir era impossível, assim como evitar um grito era ridículo. Eu voltei a me afogar e desta vez não houve musica para me salvar. Um turbilhão de imagens emergiu para me assombrar. Gritos, risos, mãos invasivas, cheiro de bebida, socos desferidos, e chutes recebidos. A dor da memória era tangível, eu podia senti-la e isso me assustou, eu quis me afastar, mas por mais que lutasse mais ela tratava de se aproximar. Eu vi os rostos deles, eu me lembrei deles.  Eu morri.

- Droga, qual é... Não vais inventar de morrer agora. Tanto esforço para nada? Eu não admito... Acorde – eu pisquei desorientada com os laves tapas que levava.

Arfante eu me sentei em um movimento rápido demais, assustando minha companheira.

-Mas que diabos, o que deu em você? – ela exigiu saber, uma ordem difícil de esquecer.

-Eu me lembrei – disse atordoada.

Ficamos paradas por alguns minutos, em completo e mórbido silencio. As memórias agora assentavam. Lembranças mais antigas de uma vida que agora não era mais minha. Eu quis chorar, mas não havia lagrimas para lamentar. Eu quis gritar, mas não havia ar em meus pulmões. Lembrei-me de respirar, e me assustei quando notei que isso não era necessário. Oxigênio já não me era algo importante.

- Eu me lembro de você – disse quando a encarei e uma lembrança conectou sua imagem a uma pessoa – você é a garota do fundo da sala... A única que tirou 10 no trabalho da Inquisição. Megan, Megan Foster.

Ela encolheu os ombros, mas era possível ver seu orgulho transbordando de seus olhos de gato.

- Era um tema muito fácil – ela disse indiferente.

- Você é o que? Uma macumbeira ou fada madrinha?

Ela me encarou com uma sobrancelha levantada, dividida entre se sentir ofendida ou seguir em frente.

- Na verdade eu gosto mais do termo feiticeira. Mas dentro das circunstancias melhor Fada Madrinha do que príncipe encantado.

Eu não entendi a piada, foi então que meus olhos se recaíram sob seus lábios novamente.Vermelhos...um vermelho curioso...que parecia...sangue...sangue seco. Meus olhos dispararam para o cadáver do galo ensangüentado e como um raio levei as mãos a minha boca e voltei com os dedos sujos de um sangue seco.

- Que diabos você fez?! – eu disse histericamente.

- Sacrifícios são necessários – ela revirou os olhos como se fosse algo obvio – Uma vida pela outra. É preciso sangue pra despertar uma alma errante.

 - Você me beijou?!

- Vai por mim, não foi à coisa mais agradável. Não que você não beije bem, é só que eu prefiro algo mais caliente – e ela riu de sua piada.

Tratei de superar o fato. Ela havia me beijado e não havia como voltar. E de fato eu não queria voltar. Se beijar era necessário para me reanimar, então eu devia me calar e aceitar.

- E o que eu sou? – perguntei curiosa – Um zumbi? Eu posso erguer carros agora? Quebrar paredes e ...

- Hei calma ai! Você é uma morta-viva, não uma vampira – ela me olhou cautelosa.

- Morta-viva – murmurei o novo termo – soa melhor na televisão.

- Hei, fique satisfeita. Você tem um cérebro, e consegue formular frases. Por acaso queria apenas rosnar e comer carne? – eu neguei apressadamente, torcendo o nariz com a imagem – pois então pare de com essa euforia e lembre-se de algo mais.

Eu olhei ao redor, procurando pela pasta de minha morte. Ela a estendeu pra mim, e eu a agarrei ansiosamente. Eu a abri relutante, vasculhando atrás dos papeis, algo me chamou a atenção. Recortes de jornal. Não me interessei pela manchete que anunciava a morte de uma garota em um baile escolar, álcool e drogas eram relacionados a mim. Isso me enfureceu. Havia algumas fotos, tiradas no velório. Reconheci a mulher magra e loira artificial escondia atrás de óculos de grau, era minha mãe debruçada sobre meu caixão aos prantos. Havia ali também meu pai, alguns primos, vizinhos e tios que jamais vi. Todos reunidos para o evento. Havia professores da escola, alguns colegas de classe e... Eles. Eu quase rasguei a imagem tamanha a fúria colérica que queimou o véu abaixo de minha pele. Ali estavam, em uma fila, todos de preto, os olhos baixos, serio e sóbrios. Que bela encenação. Meus assassinos em meu funeral. Talvez conferindo a veracidade do fato? Estava eu realmente morta?Deveriam ter esperado um pouco mais para ter garantido.

- O que disseram sobre minha morte? – perguntei, pois eu não queria ler mais nada.

Megan cruzou os braços, os olhos perspicazes cintilavam certa satisfação. Finalmente havíamos adentrado o tópico tão esperado.

- Você não passa de um lamentável e inesperado acidente. Uma adolescente que bebeu demais, se aventurou pelo colégio, cai da escada, bateu a cabeça e se afogou. Fim de Historia.

- E quanto a eles? – eu apontei furiosamente para a imagem de Tiago e sua equipe de assassinos.

- Há eles são os heróis. Bons samaritanos que encontraram seu corpo boiando – sarcasmo jorrava de suas palavras.

- O que?! – eu gritei escandalizada. Se não bastasse me matar ainda se deleitam na ousadia de bancarem as boas almas? Definitivamente o senso de humor deles ultrapassava o sádico.

- Pois é. A vida é engraçada, não? – ela disse levantando-se despreocupadamente.

- É cruel e com péssimo senso de humor – disse estarrecida, ainda largada na terra revirada. Eu novamente olhei ao redor, pois caso continuasse a encarar aquelas imagens poderia sem demora morrer novamente. Morrer de ódio.

Eu voltei a encarar meu antigo túmulo, agora profanado pela minha ressuscitadora. Deveria ter dado trabalho. Havia muita terra fora daquele buraco agora. Um enorme esforço. E para que?

- Você cavou isso tudo sozinha? – eu disse curiosa, ela sorriu para mim em concordância dando um tapinha na pá agora cravada na terra – e pra que?

- Eu não posso ser uma boa samaritana também? – ela perguntou enquanto guardava algumas coisas dentro de sua bolsa, como um grosso e velho livro, velas e fósforos.

- A garota que tentou atacar a evangélica da escola que queria lhe converter está querendo que eu acredite que possui uma alma caridosa? – disse descrente.

- Foi um episodio para historia não? – ela disse rindo das memórias que minhas palavras lhe traziam.

Eu concordei com um aceno, sem querer me desviar do assunto principal. Mas ela não respondeu de imediato. Se ocupou de guardar algumas coisas mais antes de se virar para mim. O rosto repentinamente sombrio e calculista.

- A vida é realmente engraçada não? Os fortes estão sempre sendo banhados em gloria e veneração, por mais que se mostrem indignos de tantos benefícios – ela apontou para as imagens - Enquanto que os fracos se resumem entre os adoradores e os sofredores, e não importa qual seja, todos acabam por perecer – ela apontou para mim.

- Do que esta falando?

- Da injustiça! – ela disse com veemência – da desigualdade que vivemos em todos os cantos. Sempre acuados e humilhados por aqueles cujos membros são fortes o bastante para nos refrear, ou as influencias são vastas o bastante para nos calar. Eles mantêm o poder para si, e como se não bastasse tem o prazer de nos torturar com ele.

- Aonde quer chegar?

- Não se sente injustiçada? Não sente o ódio que faz seu coração bater agora? Não sente a dor de ter sido arrastada da vida? Eles lhe transformaram em Nada! A angustia que lhes impuseram lhe prendeu ao Nada, lhe tirou a oportunidade de seguir. Seu rancor a reteve. Rancor este que é culpa deles!

Eu senti cada palavra sua. O véu se aquecia, estimulado com as frases e lembranças que queimavam sob minhas retinas. Eles me mataram. Cruel e covardemente. Sem misericórdia. Eu me corroí de angustia e rancor por tudo aquilo. Eu estava fadada a prisão do esquecimento. Eu havia perdido o vale para seguir adiante. A luz no fim do túnel jamais se acenderia para mim. Não enquanto esse rancor permanecesse. Não enquanto eu não fosse vingada.

- Se não bastasse me matar... - eu murmurei asperamente encarando a foto de meu corpo boiando de barriga para baixo em uma piscina de sangue – o que tem em mente?

- Eles não merecem o status de vencedor. Eles precisam de alguém que lhes lembre que eles não são Deuses. – ela disse aproximando-se de mim com um olhar ansiosos – precisam lembrar do real significado do medo.

- Então você me trouxe de volta só para matá-los? – eu não me encontrava ofendida com o fato, pelo contrario. Sentia certa satisfação em ter a honra de dar fim a aquelas almas desgraçadas. Eu seria a ferramenta da justiça. Piegas? Sim. Revoltante? Nem pensar.

- Matá-los? Deus não, nada disso – ela me encarou confusa.

- Como assim não? – eu soei indignada e irritada.

- Por acaso você já ouviu falar de Karma? – ela disse displicente, virando-se para pegar o cadáver do galo – pode imaginar o tamanho da energia negativa direcionada a minha pessoa se uma criatura que eu dei a vida matasse quatro pessoas?

Eu podia imaginar muita coisa. Os gritos dos infelizes. Meus risos. E sim eu podia ter uma leve noção do Karma de Megan após tudo isso. Agora supor que eu me importava era mais do que ridículo.

- Você matou o galo, isso também não é ruim?

- Por favor, não me lembre da pequena maré de azar que vai me assolar amanhã.

- O que vai acontecer? Sua vassoura vai quebrar a caminho da escola e você vai torcer a perna quando cair? – eu estava começando a me irritar, pois algo em mim me dizia que ela podia me impedir.

- Veja só quem ressuscitou o senso de humor – ela disse asperamente arrastando o cadáver do animal e largando ao seu lado, enquanto se curvava em sua bolsa e caçava por algo.

Eu lancei um olhar áspero à pasta a minha frente. Uma enorme tragédia banhada em mentiras e dor. Era assim que se resumia a minha morte. Morte esta que eu iria vingar. Afinal de contas eu queria seguir, e para isso eu precisava me divertir antes.

 - Na verdade o plano é você assustá-los pra valer. Sabe, quebrar alguns de seus braços, dar fim em seus carros. Um trauma pra vida inteira, daqueles que os faça sonhar e urinar. Que terapeuta nenhum vai conseguir concertar – Megan falou distraidamente enquanto tentava tirar do cão de quinquilharia de sua bolsa um saco plástico preto. Fiquei me imaginando dentro de um deles... E isso me enfureceu ainda mais.

Eu estreitei os olhos incrédulos. Tanto potencial e Megan se limitava apenas a botar medo. Isso explicava seu baixo nível de popularidade, numero restritos de amigos e alto índice de desprezo alheio. Ah se a vida me tivesse dado tal potencial. Eu jamais teria morrido para inicio de conversa. Como que um milagre de natal, a lamina da faca que jazia na grama maculada de sangue animal cintilou para mim, com dezenas de idéias e possibilidades. Ela estava manchada pelo sangue do galo, certamente fora o que Megan utilizou para matá-lo. Eu teria a decência de limpa-la antes de usá-la novamente. Afinal eu devia a Megan.

- Fale-me mais sobre esta minha nova condição de vida – eu disse enquanto fechava a pasta e me levantava lentamente, evitando chamar demais sua atenção.

- Bem, eu vou falar o resumo básico, porem essencial. Teremos tempo para discussões e debates mais tardes – se dependesse de mim não teríamos, não – você não é um zumbi. Na cadeia alimentar você está acima dele podemos dizer assim. Em resumo você é exatamente como era antes de morrer, só que agora é fria, sua pulsação é fraquíssima e não tem sangue dentro de você. Você é mais forte que um humano comum, mas não pode levantar carros ou destroçar paredes, talvez quebrar maçanetas, mas... Não sei ao certo. Armas não lhe matam, tipo tiros e coisas do tipo. Você também não morre asfixiada, então agora pode nadar à-vontade – ela riu de sua piada estúpida, eu a ignorei e tratei de me agachar para pegar a faca.

- Você não parece muito certa disto. Quantos você já ressuscitou?

 - Eu te disse, eu nunca ressuscitei um humano antes – ela disse enfiando o galo dentro do saco e tratando de um apertado laço.

 - Mas disse que trouxe outras almas de volta. Quem seriam essas? – minha pergunta soou muito como exigência.

- Eu ressuscitei Rubi – ela disse encolhendo os ombros, enquanto se virava para me ver, eu tratei de esconder a faca nas minhas costas.

- Quem é Rubi?

- Meu gato – ela disse enquanto andava na minha direção, eu me desviei dela habilmente escondendo minha arma, mas a face confusa com suas palavras.

- Espera um instante, está me dizendo que eu fui trazida de volta por uma ressuscitadora de gatos?!

- Hei, veja lá. Rubi é da família tá legal. Alem do mais o pobrezinho caiu do qüinquagésimo andar. E sabe como é difícil trazer um gato de volta? Aqueles bichos ficam sempre na fronteira entre os dois lados que é difícil arrastá-los para o nosso plano.

Eu cerrei os dentes, receosa. Deus queira que eu não comece a miar ou queira caçar alguns ratinhos. Megan ignorou meu momentâneo ataque de pânico e jogou o saco de lixo dentro de minha cova, e tratou de pegar a pá e começar a devolver a terra a seu devido lugar. Um sinal claro que ela não mais me devolveria pra lá.

- Onde eu estava... Ah sim... Advertência numero Um, nada de brincar com fogo, é serio ele vai te queimar sem pestanejar. Numero Dois, fique longe de lugares sagrados tipo igreja, a não ser que você queira sentir uma enorme dor de cabeça. Três, e preste atenção, caso seu coração comece a bater muito rápido... Igual quando você acordou, trate de se acalmar, respirar fundo, fica parada, porque se ele voltar a bater daquele jeito por muito mais tempo, você morre, definitivamente. Dizem que comer carne quando isso acontece faz o coração desacelerar rapidamente. Então, mantenha sempre um bife a bolsa.

- Mais alguma coisa que eu deva considerar – eu disse aproximando-me com passos silenciosos e premeditados. Ela estava de costas para mim, trabalhando distraidamente.

- Não que eu me lembre no momento.

- Por acaso eu estou de algum modo ligada a você. Sua força vital, ou seja lá o que, é necessária para minha existência? - eu disse afastando a faca de minhas costas e firmando ela em minha mão gélida.

- Na verdade no livro não tem nada disso. Não fizemos nenhum pacto de sangue para estarmos vinculadas uma a outra – eu sorri satisfeita – mas na verdade eu quero testar uma coisa que pelo que observei não é mero rumor.

Eu estava a centímetros dela, pensando onde atacar, relutando à espera de alguma nova informação útil que ela fosse soltar. Megan parou de cavar o monte de terra, cravando a pá na grama.

- Você realmente não ira me deixar matá-los? – eu perguntei uma ultima vez, dando-lhe a chance de ouro.

- O que? Mas é claro que não... - ela se virou para me encarar, e seu rosto estava irritado naquele instante.

Mas foi só um instante. Assim que se virara para mim, deixando a mostra todo seu tórax a mercê de minha lamina eu lhe agarrei pelo pescoço fechando sua garganta, ela me encarou incrédula com os olhos arregalados. Por um instante eu hesitei. Droga ela me dera à vida. Mas eu precisava me vingar. E ela jamais iria me deixar. Não havia escolha...

Eu me agarrei ao punho da faca e a alojei próximo ao ventre de Megan, se minha memória não estivesse equivocada e meus conhecimentos escassos de biologia não estivessem errados, aquele golpe não a mataria. Somente lhe daria algumas boas horas de dor, litros de sangue desperdiçado, e uma ficha no ambulatório. Ela gemeu desesperada, suas mãos agarrando-se a meu braço. Apenas um golpe que a manteria longe e calada o bastante para que eu pudesse ir me divertir.

- Você devia ter dito Pare – sussurrei em seu ouvido enquanto um sorriso sombrio curvava meus lábios prevendo minha diversão.

 

 

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Tópico: Fada Madrinha - Parte II

Conto

Data: 15-12-2010 | De: Lucy/LuH (Lucélia)

O.O CARAMBA! menina dumal mew! coitada da tal da Megan! Se bem q se ela ñ queria q a outra se vingasse, é QUASE inutil q ela ressucite a outra! adorei! :D

Re:Conto

Data: 22-12-2010 | De: Gabi (a dona do pedaço)

Todo bom ressucitado tem de ser do dumal, se não qual a graça? asuhaushauhs

Fada Madrinha - Parte II

Data: 14-12-2010 | De: Kiss *recuperando-se*

0.0² -- santo deus, hsuahsuahusa, é isso aí. Tive que morder alguma coisa pra conter a raiva q senti quando li que os assassinos dela foram tratados como heróis. espero merrrrmo que ela se vingue. só axei triste o q ela fez com Megan.. ó.ò faz parte - - o//

Re:Fada Madrinha - Parte II

Data: 22-12-2010 | De: Gabi ( a dona dessa joça)

É o que acontece com os bonzinhos nas historias de terror, eles se ferram, com a Megan não foi diferente...hsuauhsuahs...alem do mais achei um bom aquecimento para a Isabel (medo de mim o.O)

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