Fada Madrinha

09-12-2010 14:43

 

 

Meus passos são trôpegos, vacilam e tropeçam uns sobre os outros conforme percorro os corredores desertos e escuros do colégio, sempre me valendo de algum armário ou parede para me equilibrar sobre meus saltos agulhas de quinze centímetros novíssimos. Obviamente o álcool não me ajuda. Eu realmente havia exagerado no ponche apesar das advertências de Ted, mas era tão doce... E me deixava tão alegre... Quem iria imaginar que haviam batizado a bebida com tanto álcool? Não uma garota de 16 anos...

Ainda posso ouvir a algazarra vinda do salão onde o baile ocorre. Ouço com clareza os risos estridentes de algumas garotas exibicionistas e os urros graves de alguns rapazes que se embrenham em alguma briga. Estou curiosa para saber se há mesmo alguma briga desenrolando-se naquele ambiente decorado com papel crepom e muita serpentina, eu detesto perder grandes eventos. Odeio ter de ouvir a mais nova noticia e não ser a primeira a dizê-la. Mas eu não vou dar meia volta. O guardanapo amassado em minhas mãos suadas é mais importante do que uma briga do time de futebol. A notícia de que Tiago Brom me espera na piscina é muito superior a uma costela fraturada do jogador veterano que pode no levar as finais deste ano.

Eu me apresso, colidindo meus saltos com maior estrepito. Meu coração esta saltitando como um pardal retardado. Finalmente as escadas que levam as piscinas se aproximam e me lanço sobre elas ignorando o fato de que uma queda em cima desses saltos pode acabar por me matar. Novamente a risos aqui em baixo, graves o bastante para eu notar a masculinidade dos responsáveis. Ao fundo, no entanto um sino estridente denuncia a presença de uma menina. É estranho mas não bastante para me fazer voltar.

Uma curva aqui, e logo e alcanço a porta que leva aos vestiários, e logo após eles eu me deparo, no topo de uma curta escadaria, as duas longas e extensas piscinas olímpicas e próximo ao fim da escada uma platéia assiste-me com sorriso maliciosos segurando seus drinks alcoólicos.

- Você chegou! Mas que demora, merda eu achei que não ia aparecer – Tiago estende os braços na minha direção, abertos e receptivos. Eu não me movo.

- Você tinha razão ela até que é bem gostosa – um rapaz fala, os braços ocupados na cintura de uma garota ruiva. Eu a conhecia. Marcie Milar, uma vadia.

- A culpa é do uniforme, eles sempre atrapalham – diz uma voz rouca vindo de um rapaz que eu me toquei era um formando.

- Devo concordar, às vezes eles são horríveis de se tirar – Marcie grana naquela sua voz nasal que queria soar sensual.

- Vem pra cá Isi! – Tiago branda ignorando seus companheiros.

- É vamos nos divertir – diz o formando lambendo os lábios.

- Hei, eu quero ser o primeiro – diz o rapaz agarrado a Marcie. Posso ver sem enganos ele afastá-la com um gesto enquanto agarrava o cinto e começava a solta-lo.

Meu coração para, como uma criança assustada. Eu sei o que ele quer, eu sei que eu quero fazer algo semelhante, mas em um cenário mais romântico, com apenas um ocupante e sem essa pressão sufocante. Eu quero um quarto de motel com apenas Tiago dentro dele.

- Cale a boca seu imbecil – gritou Tiago, ele virou-se para o amigo os punhos cerrados em aviso, e aquilo, estupidamente, me acalmou – o privilegio aqui é meu.

Eu não sei se ele esta falando serio, mesmo enquanto ri aquilo não se parece com uma piada, nem ao menos uma mal contada.

- Tiago... Você andou bebendo algo além de cerveja? – minha voz é fina e relutante.

- Beber... Cheirar... Qual a diferença? – diz o formando com Tiago ao lado concordando, para meu espanto.

- Ande, venha aqui embaixo, onde eu possa lhe tocar – ele acena para mim, convidando. Eu não me movo. Eu estou apavorada com seu sorriso malicioso. Eu dou um passo para trás.

- Quer bosta, deixe de cú doce! – o formando berra.

- Eu odeio esperar! – cantarolou o rapaz de Marcie, e esta apenas ri cruelmente, acariciando suas intimidades.

Eu estou muito assustada com toda aquela algazarra pornográfica para notar que Tiago sobe as escadas velozmente. Ele é rápido, por isso está no time. Eu me esqueci que somente drogados são permitidos nos times. Eu grito fracamente, dando um passo estabanado para longe, meu salto se enrosca na sai de meu vestido, que péssimo dia para rejeitar um vestido curto... Eu perco o equilíbrio e caio no chão, minhas costas por pouco não colidem contra o piso úmido. Mas eu prefiro que tivessem, eu não gosto das mãos ásperas e calejadas de Tiago ao meu redor. Mas ele me segura, forte e sem cuidado, me puxa para perto de si. Seus dedos pressionam minha pele na altura de meus quadris, eu tento me afastar e sua mão me reprime me segurando pelas costas, próximo demais da alça de meu sutiã.

- Qual é? Não era isso o que você queria quando desceu aqui? – ele murmura em meu ouvido, o hálito de cerveja, maconha quase me endoidecesse também.

- Me larga – choramingo me debatendo em sua jaula.

- Adoro desafios – ele gemeu enquanto sua mão agarrava-se a minha saia e a rasgava.

- Não! – eu enfio o meu salto no meio de seu pé, com força e violência. Ele grita palavrões e urros incompreensíveis. Suas mãos envolvem meus pulsos e eu chuto sua virilha. Eu não desisto. Ele se curva com um olhar assassino e mal percebo quando ele me joga escada abaixo.

Eu rolo, minha cabeça colide dolorosamente contra cada degrau. Minhas pernas se contorcem e torcem uma sobre a outra. Ouço mais de uma fez algo solido se quebrar. O carrossel para abruptamente, percebo que estou agora aos pés da escada, a cabeça latejando o corpo dolorido. Sinto algo quente e úmido cobrir minha nuca, minhas mãos tremulas correm até o local e voltam com os dedos pintados de vermelho. Eu grito. Alguém ri.

- Cacete tu é realmente um babaca Tiago! Espancado por uma loirinha! – o formando diz entre escandalosas risadas.

- Cala essa sua boca de merda! – a voz de Tiago se sobrepõe ao resto. Esta rouca e dolorida, assim como o que tem no meio das pernas.

- Já que o imbecil ali esta invalido acho que eu ganho a vez dele – o formando diz ignorando as ofensas e resmungos de Tiago.

Eu entendo o que o formando quer dizer. Eu me desespero com o que o formando disse. Desesperada eu me viro e tento me erguer com meus braços frágeis. Cambaleante eu me ponho de pé, mas é tarde. O formando está a minha frente, sorrindo contente.

Um passo para trás é tudo o que consigo dar. A mão grande do formando me agarra pelo antebraço e me puxa para um desconfortável abraço. Eu me esperneio e choro mais pela dor do que pelo medo.

- Vai bancar a difícil? – ele agarrou meu pescoço ignorando o sangue que ali se alojava – é melhor saber que não sou muito paciente.

Sua mão escorrega para baixo, estaciona no fecho de meu sutiã. Meus pulsos estão presos em seu aperto de aço. Eu me contorço exasperada, uma atitude desnecessária. Ele ri, e por alguma mania estranha, joga sua cabeça para trás enquanto o faz. Eu vejo ali minha saída. Impulsiono-me para frente, para perto dele, jogando minha cabeça contra seu rosto. Minha testa colido contra seu nariz. De baixo para cima. Dói. Mas ele grita mais do que eu. Ele me solta, e com a mão sobre o nariz para estancar a vazão de sangue, me chuta na altura do estomago. Ele faz Kong Fu.

Eu voou alguns pequenos metros, caindo com a cabeça na beirada da piscina. Sinto outra parte de minha cabeça se abrir, o sangue jorra da nova ferida. Minha visão embaça e meus ouvidos se enchem de risos e xingamentos. Não meus, deles.

- Sua vadia desgraçada! – o formando berra.

Algo agarra meu tornozelo, reconheço os calos da mão de Tiago. Suas mãos deslizam por baixo de minha saia. Sobem rápidas. Eu pisco furiosamente, tentando enxergar algo. Posso ver o vulto de Tiago sobre mim, seu corpo colado desconfortavelmente ao meu. Posso ouvi-lo se livrar do cinto. Eu quero chutá-lo, mas agora meu tornozelo e coxa doem quando os movo. Eu quero gritar, mas a mão dele em minha garganta me impede. Ninguém esta segurando meus braços. Sua mão sobe rápida, ameaça me invadir. Eu fecho meu punho e o lanço com toda a força contra o lado esquerdo do rosto de Tiago. O som da colisão é seco. Carne contra carne. Meus dedos latejam enquanto Tiago se afasta atordoado. Eu dou outro soco em seu estomago, não é forte o bastante, mas ele se afasta mesmo assim. Eu rolo para o lado, e me levanto em um salto.

O sangue escorre por meu pescoço, cobre minhas costas, pinta o chão. O mundo gira devido aquele movimento rápido. Eu ignoro o enjoou que faz meu estomago se revirar. Eu não podia vomitar. Não no meu vestido novo. Eu dou apenas alguns passos, desorientada e com a visão ainda levemente embaçada. Braços finos me agarram pelos ombros, se fecham em meu pescoço. Sinto as unhas grandes e ásperas de Marcie em minha pele enquanto ela me segura. Sinto sua língua pegajosa deslizar por minha orelha. Estremeço em repulsa. Algo colide contra minha bochecha esquerda, minha cabeça gira, forçando meu corpo a acompanhar. Novamente eu estou ao chão, ajoelhada e chorosa. Minhas mãos cobrem minha boca, enquanto minha língua sente a ferida aberta em meus lábios. O gosto do sangue é intragável. Eu cuspo e engasgo.

Alguém ri ao meu lado. Parece um pato. Um pato chamado Marcie. Algo se choca contra meu estomago. Eu voou algum centímetros antes de voltar ao chão.

- Mas que merda de garota você é! – o formando esbraveja – olha só toda ensangüentada. Tenho até nojo.

- Pois eu ainda não broxei. Que droga Ted, tem ânsia de sangue agora?! – risadas ecoam.

- Você é doente, essa é a diferença – ouvi Tiago dizer.

- Ela é arredia não? Foi por isso que você não a traçou até agora Tiago? – mais risadas.

- Alguém precisa domesticar essa gatinha selvagem – uma voz rouca sussurra em meu ouvido, eu estremeço. Não percebi que alguém estava tão próximo. Eu me levanto, cambaleando alguns centímetros. Estou arfando, minha garganta esta seca. E tudo dói.

Eu pisco fazendo os vultos se focarem diante de mim. O rosto do Tiago esta vermelho onde acertei. O nariz do formando esta torto. Os outros dois estão sorrindo diabolicamente. Estão todos drogados e confiantes. E não há motivos para não estar.

- Ela é teimosa – resmunga Marcie.

- Só até alguém lhe ensinar quem manda – o rapaz de voz rouca diz. Ele desabotoa o botão da calça e pisca para mim. Todos riem. Enquanto eu ofego encarando todo aquele pesadelo.

Eu olho ao redor. A escada por onde vim esta bloqueada por eles, mas há uma saída no fim do recinto, do outro lado. É apenas uma estreita porta, mas que nunca esta trancada, pois está quebrada. Apenas 20 metros. 20 metros que em meu estado se transformavam em quilômetros. Meu estomago se revira novamente, e faz minha cabeça latejar. Assusto-me quando não sinto mais as pontas de meus dedos. Assusto-me com a sensação anestésica que ameaça me tragar. Reconheço a exaustão conseqüente da perda de sangue. Eu vazei muito esta noite.

- Marcie é melhor você segurar ela, acho que desgraçada ai não vai agüentar... E você sabe como eu sou – o rapaz de voz rouca diz. Suas palavras me apavoram e me fazem agir embora fosse inútil fugir.

Eu vejo pelo canto do olho Marcie avançar com suas unhas sobre mim. Por um milagre eu consigo me desviar e sem pensar começo a correr. Corro rente a piscina em direção a porta. Aos tropeços e soluços eu vejo minha visão embaçar com o cansaço, sinto o sangue jorrar para fora de mim, sinto minha perna latejar. Mas ignoro. Viver vale esse esforço.

Eu corro. Mas não sou rápida. Não o bastante. Mãos de unhas longas me agarram minhas pernas, puxando e arranhando. Eu caio contra o chão em movimento. Minha cabeça colidi loucamente contra a beirada da piscina. Minha testa lateja enquanto algo quebra dentro de minha cabeça. Sinto o sangue jorrar. Uma cascata vermelha me cobre os olhos.

Algo agarra meus braços, eu quero revidar, mas eu não sinto mais meu corpo. Eu não sei mais como o comandar. Eu estou à mercê. Eu estou à deriva. Eu estou tomada pelas dores. Dores de morte.

Risos são a ultima coisa que ouço, escandalosos e histéricos, mas no fundo satisfeitos. Sinto vagamente algo agarrar minha cabeça e lançá-la contra o chão algumas vezes mais. Como sinos minha cabeça e os ossos partidos dentro dela, vibram. Mais risos e palavrões. Não há mais volta. Eu não sinto mais nada. Minha ultima lembrança se resume a um mar vermelho sangue, e uma frase abafada pela água

- Até que foi divertido...

 

 

Continue --->

Tópico: Fada Madrina

Fada Madrinha

Data: 02-01-2011 | De: Anne . Lizze

Carambaa !
Tô arrepiada até agora! Muitoo boom mesmoo, parabéns! Quero muitoo ler o resto, e principalmente quero que ela se vingue BONITO desses panacas!

Re:Fada Madrinha

Data: 22-01-2011 | De: Gabi ( a dona do pedaço)

Certamente seu desejo será realizado,rsrs

Conto

Data: 15-12-2010 | De: Lucy/LuH (Lucélia)

Adorei! Muito assustador, e eu to muito curiosa pra saber o resto! :D Bjos!

Re:Conto

Data: 22-12-2010 | De: Gabi (a dona do pedaço)

Assustador *--* tudo o que eu queria ouvir ;D TKANKS !

Fada Madrina

Data: 14-12-2010 | De: Kiss

0.0 meu deus... isso é que terror. aah, mas quem manda confiar, não é mesmo? eu não confiaria. um rosto bonitnho engana muito bem, neah.. óotimo conto, :D bem que eu quero que a coitada se vingue, e se vingue bonito de cada um deles... >DD

Re:Fada Madrina

Data: 22-12-2010 | De: Gabi (a dona do pedaço)

Meu bem, modestia a parte, vingança é o que sei escrever de melhor, isso e descrever rostinhos bonitos...asuahushas.

E muito obrigada pelo "...isso é que terror", fez a minha noite

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